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Entrevistas

A UESC hoje é a instituição de maior credibilidade na região cacaueira.

 

Entrevista com o reitor da UESC, Antônio Joaquim Bastos da Silva, em 23/12/2011.

O prof. Antônio Joaquim Bastos da Silva é graduado em Economia pela Faculdade de Ciências Econômicas de Itabuna e em Administração pela Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna. Possui Mestrado em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa. É presidente da Associação Brasileira de Reitores das Universidades Estaduais e Municipais e vice-presidente do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras. Esteve no cargo de reitor da UESC por dois mandatos consecutivos e deixou a reitoria em 02 de fevereiro de 2012.

 











 



Núcleo WEB - Reitor, após quase oito anos de mandato à frente da Universidade Estadual de Santa Cruz, como o senhor avalia a posição da Universidade no cenário da educação superior na Bahia?

Antônio Joaquim Bastos da Silva - Inicialmente, nós poderíamos dividir essa pergunta em dois focos. O primeiro foi a fase da consolidação de uma série de ações que estavam sendo implementadas à época da nossa posse. E no segundo momento, não só expandir, como, acima de tudo, dar qualidade aos programas e projetos que estavam sendo desenvolvidos na Universidade. Ao longo desses oito anos, a UESC passou a ter um reconhecimento não só em nível de Bahia, mas, principalmente, em nível nacional, por ser uma Universidade bem ranqueada pelo Governo Federal. Em nível de Estado da Bahia, ela está em segundo lugar, atrás apenas da UFBA. E se nós levarmos em conta que entre nós e a terceira ranqueada há uma diferença de quase 140 pontos, demonstra o quanto a Universidade Estadual de Santa Cruz evoluiu qualitativamente ao longo desse período. 

NW - No período de sua administração, a UESC criou 10 novos cursos de graduação e promoveu mudanças significativas na política de acesso à Universidade. Quais as perspectivas agora para essa área? 

AJBS -
A Universidade, inicialmente, vai precisar identificar qual o seu tamanho ideal. Nós percebemos que algumas universidades brasileiras primaram por se desenvolver de maneira muito forte na pós-graduação, tendo na graduação a sustentação de seus cursos de mestrado e doutorado. Outras primam por desenvolver uma graduação muito forte e com pouca ou quase nenhuma ênfase na pós-graduação. A UESC, nesses últimos anos, buscou entender como funciona o mercado global, haja vista que, recentemente, criamos quatro novos cursos de Engenharia em função da necessidade que o mercado, principalmente o mercado de petróleo, exige hoje para o país. Isso demonstra que a UESC é uma Instituição que está antenada com a globalização e faz com que as suas ações sejam voltadas, exatamente, para o atendimento das demandas da sociedade. Com relação à política de acesso, desenvolvemos inicialmente um projeto piloto chamado de Bantuiê que, ao longo de três anos, nos mostrou e nos deu a convicção de que programas de inclusão social desenvolvidos na nossa Universidade não trariam interferência na qualidade de seus resultados. E, com isso, adotamos um sistema de cotas diferenciado de muitas outras universidades, porque o nosso sistema é para alunos de instituição pública e há também um viés racial, mas a predominância do nosso sistema de cotas está voltada para o aluno de escola pública. E com isso, conseguimos avançar nas discussões junto ao Governo Federal, o que faz com que esse ano nós estejamos aproveitando 50% das nossas vagas via INEP - são as vagas do ENEM -, e 50% de vagas através do vestibular. O grande problema de se criar um programa de acesso à Universidade não remete à fase inicial da entrada do aluno e sim à fase de permanência. Isso nós vamos ter que pensar: de que maneira, futuramente, o nosso programa vai ser ampliado? Hoje, já se atende a aproximadamente, 2.000 estudantes com bolsas permanência, que inclui transporte, alimentação, auxílio-residência. Enfim, são ações que fazem com que o aluno que tem menor poder aquisitivo possa desenvolver as suas ações de ensino, as ações como acadêmico de forma necessária e suficiente para o seu aprendizado e, acima de tudo, para que ele se transforme em um verdadeiro cidadão. 

NW - Professor, e no que diz respeito ao ensino na modalidade a distância, quais os projetos da Universidade? 

AJBS - A UESC iniciou suas ações na área de modalidade a distância, educação a distância e UAB, a partir de 2007. Tínhamos um projeto aprovado e, inicialmente fizemos uma experiência participando do Consórcio Setentrional, onde a UNB capitaneava esse programa. E no momento que nos sentimos em condições de desenvolver cursos na modalidade à distância através da própria Universidade, assim o fizemos. Hoje, entendemos que esse tipo de ensino não só permite a qualificação de pessoas em nível de graduação, mas, principalmente, nós temos de pensar em cursos de pós-graduação. Hoje, no mundo, a maneira mais eficiente de se fazer a qualificação de profissionais que já estão alocados no mercado de trabalho é através de cursos na modalidade a distância. Isso nós percebemos nos países que fazem parte da Comunidade Europeia, percebemos isso nos Estados Unidos, na Austrália. Como nós estamos tentando fazer, hoje, em nível de graduação com a qualificação de professores, principalmente da rede pública de ensino, tanto em nível municipal quanto em nível estadual. Isso dá não só a capacidade de interferir na qualificação de recursos humanos, mas, acima de tudo, de adequar, de maneira apropriada, esses profissionais dentro das diversas disciplinas que eles ministram nessas redes de ensino.

NW - A partir de agora, professor, que diretrizes vão nortear a nova política de assistência e permanência estudantil?

AJBS - A UESC, desde 2007, vem promovendo o seu programa de assistência estudantil, se não de forma 100% suficiente, mas, se levarmos em consideração que a assistência estudantil que é desenvolvida é oriunda dos recursos da própria Universidade – nós não temos auxílio externo com relação à manutenção desse programa – entendemos que ele conseguiu funcionar de forma bastante satisfatória. Nós temos a expectativa de que, a partir de 2012, com a utilização do ENEM no acesso dos alunos à Universidade, passaremos a ter recursos extraorçamentários que vão permitir fazer com que essa assistência estudantil seja consolidada, até porque esses recursos permitem não só bolsas para manutenção do aluno na Universidade, como também podem ser utilizados em investimento, como por exemplo, na construção de residência universitária. Além disso, nós temos disponibilizados, de uma emenda parlamentar, R$ 800 mil que serão incorporados para construção da residência universitária. Acredito que a UESC está no caminho certo e que, em 2012, com certeza, vamos estar num patamar de melhor qualidade, num patamar de maior acessibilidade por parte dos alunos carentes ao nosso programa de assistência estudantil.

NW - Na área de pós-graduação, que avaliação o senhor faz com base na realidade da UESC nesse cenário? 

AJBS - Quando assumimos a Universidade, nós tínhamos uma visão clara de como vinha funcionando o ensino em nível mundial. Isso se nós pensássemos dentro do conceito de Universidade do futuro, onde muitas missões são estabelecidas, como por exemplo: educar é um conceito de Newman; pesquisar é um conceito de Humboldt; profissionalizar que foi um conceito muito usado na era napoleônica; organizar o conhecimento que foi um conceito desenvolvido por Aquino; e acima de tudo, interagir fortemente com a sociedade, que é um conceito moderno, é um conceito que está sendo usado plenamente. Porque comumente nos questionamos: qual o papel das universidades públicas para o desenvolvimento regional, para o desenvolvimento do estado, para o desenvolvimento da nação? Se levarmos em conta que o desenvolvimento de recursos humanos é promovido por todas elas, precisamos de algo mais, ou seja, de ter aquele salto de qualidade que fizesse com que a Universidade fosse diferente. E para que nós atingíssemos essas metas e, principalmente, pudéssemos estar conceituados ao nível das melhores universidades brasileiras, fizemos a opção de desenvolver a pós-graduação dentro da Instituição. Se levarmos em conta que, nos últimos oito anos, nós tivemos um crescimento, pois saímos praticamente de dois mestrados próprios para 14 mestrados e três doutorados, isso demonstra realmente a velocidade com que a Universidade tem crescido na área da pós-graduação. Temos cursos que são bem classificados, estão dentro de um conceito de qualidade muito grande. Sabemos que isso também é fruto do programa de qualificação do corpo docente que foi implementado de forma muito robusta pela nossa Instituição. Ao longo desses oito anos, tivemos, aproximadamente, 100 professores afastados para qualificação, na sua grande maioria em cursos de doutorado, alguns em cursos de pós-doutoramento, e isso fez com que o nosso corpo docente se transformasse num agente captador de recursos muito grande e de uma importância fundamental para o crescimento da Instituição. Então, a pós-graduação foi a vertente escolhida pela nossa gestão para desenvolver o crescimento da Universidade. E, com certeza, eu posso afirmar que fizemos a escolha certa, haja vista que hoje nós conseguimos atingir a meta 14 do PNE (Plano Nacional de Educação), já de maneira bem antecipada ao prazo que o MEC estabelece para que as universidades tenham 75% do seu corpo docente qualificado com, no mínimo, 35% de doutores. A UESC já ultrapassou - e muito - essa qualificação. Nós hoje temos mais de 80% do nosso corpo docente qualificado com mestrado e doutorado, e esperamos, nos próximos dois anos, chegar a aproximadamente 95% de qualificação do nosso corpo docente. Isso fez com que a pós-graduação ganhasse qualitativamente, não apenas quantitativamente, no número de cursos e no número de alunos matriculados mas, principalmente, se levamos em consideração a posição da UESC no ranking de publicações em revista indexadas. A Universidade Estadual de Santa Cruz, hoje, tem o melhor ranqueamento, em nível de Estado da Bahia, com relação à publicação em revistas indexadas internacionais. Isso é fruto exatamente da qualidade do nosso corpo docente que trabalha nos programas de mestrado e doutorado, principalmente nas ações que são desenvolvidas nas diversas áreas de pesquisa. 

NW - Professor, uma das referências dessa administração é a grande quantidade de obras realizadas no campus universitário. O que representa essa expansão para o futuro da UESC?

AJBS - Esse casamento entre expansão física e expansão acadêmica vai existir permanentemente em qualquer instituição que queira se desenvolver, que queira crescer, e acima de tudo se consolidar como sendo instituição referencialmente de qualidade. Ao longo desses oito anos, tivemos que trabalhar de maneira muito forte na busca de recursos externos, pois entendíamos – e continuamos entendendo – que os recursos que são disponibilizados pelo Tesouro do Estado são insuficientes para investimentos. No primeiro mandato, tivemos uma série de obras inauguradas e para esse segundo momento, no próximo mês de janeiro, nós pretendemos, pelo menos, inaugurar dez novas obras na Instituição. Quase todas elas remetendo-se à ampliação de espaço físico. Obviamente que o espaço físico que vem sendo construído não só é utilizado para sala de aula, mas acima de tudo, para laboratórios de pesquisa, laboratórios de diversos cursos de pós-graduação. E temos certeza, de que, para o presente momento, para o tamanho atual da nossa Universidade, o espaço físico que nós temos a ser inaugurado vai contemplar plenamente as nossas ações. Obviamente que se a Universidade continuar se expandindo, porque existe ainda essa possibilidade de criação de novos cursos, novos espaços físicos deverão ser demandados e para isso a Universidade precisa continuar nessa busca permanente de recursos externos, que tanto pode ser em nível de Governo Federal, como pode ser em nível de agência de fomento internacional, ou em nível da iniciativa privada. Todas essas ações voltadas para a captação de recursos externos terão que ser mantidas e, se possível, ampliadas, até porque algumas necessidades ainda precisam ser atendidas dentro da Instituição. Mas isso é um processo contínuo, é um processo que nós temos levado em consideração na distribuição desses espaços novos, principalmente o estágio meritório de cada setor, de cada segmento, de cada departamento dentro da Instituição. E isso faz com que a UESC, realmente, possa trabalhar com tranquilidade no desenvolvimento das suas atividades acadêmicas. 

NW - Na área tecnológica, que avanços foram proporcionados à comunidade acadêmica? 

AJBS - A UESC tem buscado participar de ações que venham transformar tecnologicamente a Instituição. No primeiro momento, ampliamos sua capacidade de rede. No segundo momento, dotamos todos os departamentos e professores com os equipamentos necessários. Hoje, praticamente, todos os nossos professores com dedicação exclusiva, ou que estão focando ações de pesquisa, possuem um computador pessoal: isso melhora a sua qualidade de rendimento na sala de aula e não impede que ele acompanhe ou desenvolva trabalhos fora do seu ambiente uesqueano. E gostaríamos imensamente de ter aqui na Universidade tecnologias sendo desenvolvidas de modo a trabalhar, por exemplo, com redução do consumo de energia, desde quando a Universidade tem projetos na área de energia renovável. Nós poderíamos trabalhar programas de estrutura de rede, não só internas, mas, acima de tudo, com outras universidades, com outros organismos internacionais, principalmente que nos permitissem funcionar de maneira clara e diária com todos esses organismos. Temos um problema que precisa ser resolvido pelo Governo do Estado com relação à Lei de Informática. Hoje, o Polo de Informática poderia estar alocando aqui em nossa região, principalmente em nossa Instituição, boa parte dos recursos que são possibilitados de aplicação da Lei de Informática, e isso não ocorre. Nós somos o quinto estado nordestino fixador de recursos da Lei de Informática; perdemos para Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, em virtude das dificuldades da legislação existente no Estado da Bahia. Isso já foi solicitado ao Governo – a reformulação dessa legislação. Nós temos no CEPEDI (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico em Informática e Eletro-eletrônica), em Ilhéus, uma Instituição que tem o suporte da Universidade para seu funcionamento, e também tem as mesmas dificuldades. Por vezes é muito mais fácil fazer uma captação de recursos externos ao Estado da Bahia, de empresas que venham desenvolver tecnologias no CEPEDI ou na própria Universidade, quando nós poderíamos ter um volume infinitamente superior ao que hoje é aportado não só na UESC como também no CEPEDI. Então é uma área que precisa ser desenvolvida. Eu acredito que as engenharias vão dar um salto de qualidade nas pesquisas doravante, principalmente nas áreas de energia, produção de material, de desenvolvimento de software, de hardware, enfim, equipamentos que tecnologicamente consideramos de primeira necessidade, mas que a Universidade está numa fase ainda bastante embrionária. Com certeza, através do NIT, através do NBCGIB, das diversas engenharias, do curso de Computação e do próprio CEPEDI, a tendência natural é de que, nos próximos anos, nós passaremos a desenvolver tecnologias mais requisitadas pela sociedade, até porque estamos numa fase inicial de registro de patentes. Isso demonstra já certa preocupação dos nossos pesquisadores com relação à produção que é desenvolvida na área tecnológica. 

NW - E na área de Extensão, professor, o que o senhor poderia dizer? 

AJBS - Nós entendemos que a Universidade tem um papel preponderante no desenvolvimento regional, e com isso as ações de extensão se tornam carro-chefe nesse processo. Temos ações que buscam contribuir com a integração regional; fazemos o desenvolvimento de uma massa crítica,aqui, na região, de alto nível; temos ações que são de formação continuada e, acima de tudo, permitem que a Universidade faça a interação com a sociedade. Só pra se ter ideia, nas ações de extensão desenvolvidas no ano de 2010, nós atendemos a mais de 240 mil pessoas com ações voltadas para o meio ambiente, para a educação, comunicação, cultura, trabalho, saúde e direitos humanos. Acho que a extensão é a porta de saída da Universidade, principalmente para tudo o que é produzido na área de pesquisa. De que maneira nós podemos levar para a sociedade os conhecimentos ou os resultados que são obtidos através do desenvolvimento das pesquisas realizadas nas diversas áreas? Nós poderíamos dizer que a Universidade é bem posicionada com relação à interação com os diversos municípios do seu entorno. Nós temos, aproximadamente, convênios com 80 municípios, trabalhamos ações do programa TOPA, do programa Universidade para Todos, detecção precoce do câncer infantil, temos o programa de implantação do banco de ovinos, criamos a Universidade Aberta à Terceira Idade, que é um programa muito procurado e bastante interessante; buscamos desenvolver o conhecimento na rede de ensino do segundo grau, com as Olimpíadas da Matemática. Enfim, são ações extensionistas desenvolvidas pela UESC. Por vezes, nos preocupa a falta de compreensão ou de comprometimento dos governos municipais. Nós poderíamos, sem citar nomes, dizer que muitas das ações que poderíamos estar desenvolvendo, por exemplo, na área de turismo, deixam de ser desenvolvidas porque não há uma linha de interação ou de conexão entre o que a Universidade produz os trabalhos que são desenvolvidos dentro dos municípios. Na área cultural, a mesma coisa. Se formos verificar o quanto a nossa Região já perdeu da sua história nessa área cultural, se você for olhar todos os eventos que há 30 ou 40 anos eram desenvolvidos ao longo do ano em todos os municípios, na Região Cacaueira, hoje muito pouco está preservado, muito pouco é cuidado no sentido de desenvolver ações que façam a preservação cultural da região. Nós temos um programa de assistência a arquivos públicos que, em alguns momentos, parece que é função da Universidade manter o arquivo público em funcionamento, quando na realidade a nossa função é orientar, estruturar, é criar um projeto de funcionamento para o arquivo público no município. Eu acho que precisa – e muito – mudar a mentalidade regional com relação ao funcionamento dos municípios quando a Universidade se predispõe ou se propõe a auxiliar, a orientar ou a fazer encaminhamentos de programas que são de interesse do município. Não é que a Universidade possa fazê-lo ao seu bel-prazer. É porque na realidade fugiria a muitas das nossas funções, se nós começássemos a desenvolver dentro dos municípios ações ou funções que são estritamente municipais. 

NW - Que avaliação o senhor faz sobre o início do intercâmbio da UESC com instituições de ensino superior de outros países? 

AJBS - O intercâmbio, independentemente dele ser em nível interno ou externo – onde nós poderíamos dizer que a mobilidade pode acontecer em nível do próprio estado da Bahia ou dentro dos estados brasileiros, e também pode ser em nível internacional – tem sido uma ação instigada pelo Governo Federal. Existem professores nossos que saem e existem professores de outros países que vêm ao Brasil para também se qualificar. O Governo Federal criou o programa Ciência sem Fronteira, que espera, até 2014, estar mandando 100 mil jovens acadêmicos para o exterior. Obviamente que o Governo está direcionando para as áreas de interesse maior. Nesse primeiro momento, são as áreas de engenharia, principalmente, desde quando o pré-sal vai fazer com que nós tenhamos necessidade de 60 mil novos engenheiros só para a Petrobrás. Então percebemos o volume necessário de mão de obra que precisa ser qualificada num curto espaço de tempo. Esse programa dá 100 mil bolsas: são 75 mil bolsas financiadas pelo Governo Federal, 25 mil bolsas financiadas pela iniciativa privada. E a UESC entende que é um momento apropriado para dar não só oportunidade aos nossos alunos de pós-graduação, mas principalmente aos nossos alunos da graduação de ter uma nova visão de mundo, de conhecer novas culturas, novas identidades. Enfim, um aluno que passa dois anos numa universidade europeia, onde ele vai ter dupla titulação, ele recebe um título que é reconhecido tanto em nível da UESC quanto a sua instituição do exterior, e volta com a visão de mundo totalmente diferenciada. Ele volta um cidadão com a visão muito mais ampla dos problemas mundiais, do contexto que está sendo discutido com relação às diversas áreas de conhecimento. E para nós isso é importante porque a UESC faz parte de grupos hoje reconhecidos no mundo, como, por exemplo, Grupo Coimbra Universidades Brasileiras. Nós somos uma das seis universidades estaduais que participam desse projeto; somos membro fundador do grupo Coimbra. São 52 universidades brasileiras que, através da criação desse grupo – reconhecido pelo governo brasileiro e pelo governo português – fazem com que nós tenhamos acesso às 38 universidades da comunidade europeia, que são as mais antigas do mundo. Na Universidade de Coimbra, por exemplo, nós temos hoje mais de 10 alunos em áreas de licenciatura. É uma Universidade que foi fundada em 1292, salvo engano. A Universidade de Bolonha, na Itália, é um pouco mais antiga. Enfim, nós temos alunos hoje na Espanha; alunos que estiveram na Alemanha; que vão à França dentro do programa do curso de Línguas Estrangeiras Aplicadas às Relações Internacionais, o que faz com que ao retornarem à nossa Universidade, tenham um ganho de conhecimento que, com certeza, melhora o seu currículo. Outro ponto que tem de ser levado em consideração é que, na avaliação dos diversos cursos feitos, principalmente pela CAPES – cursos de pós-graduação – há uma necessidade ou quase uma obrigatoriedade de que haja essa mobilidade que nós chamamos de “conexão sanduíche”, que pode ser um ano até dois anos para o doutorado e seis meses ou até um ano para o mestrado. O aluno pode fazer disciplinas no exterior que são aproveitadas no seu curso de qualificação. 

NW - Professor, como a pesquisa, especificamente falando, tem contribuído para fortalecer a posição da Universidade no contexto de nosso Estado? 

AJBS - O viés que nós escolhemos para desenvolver o crescimento e o reconhecimento qualitativo da Universidade foi através da pós-graduação e da pesquisa. Hoje, nós temos dentro da Instituição laboratórios considerados de ponta. Temos o laboratório de genética e biotecnologia e o laboratório de microscopia, com equipamentos fantásticos e estaremos inaugurando agora, em janeiro, o Instituto de Análise Físico-Química para produtos orgânicos e inorgânicos, do qual o CNRS da França vai ser um dos nossos parceiros, não só ajudando na fase inicial de implantação, mas principalmente na transferência de tecnologia e de equipamentos para o seu funcionamento desse centro. Com isso, a Universidade vai ter um Instituto para análise de produtos, como disse, orgânicos e inorgânicos. A fase inicial a ser trabalhada deve ser a fase alimentar, desde quando a Comunidade Econômica Europeia e os EUA, hoje, exigem certificação dos produtos na origem. Então, nós precisamos ter, no Brasil, um laboratório reconhecido internacionalmente que possa fazer a certificação desses produtos na sua origem. E, com isso, a Universidade vai dar um salto não só qualitativo, mas, acima de tudo, vai criar possibilidades de geração de receitas adicionais pela produção de serviços que serão prestados. 

NW - O senhor se encontra em fase final do segundo mandato como Reitor. Nesse sentido, como vê a significação institucional da UESC no cenário regional? 

AJBS - A UESC comemorou 20 anos de existência. Obviamente que nós somos fruto da junção de três faculdades, duas de Itabuna e uma de Ilhéus: a Faculdade de Economia foi criada em 1965, a de Direito, em Ilhéus, em 1959, e a de Filosofia, em Itabuna, em 1960. E em 1974, passaram a fazer parte do sistema FESPI, que era a Federação de Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna. Ao longo desse período, muitas dificuldades tiveram que ser superadas. Eu digo sempre que o maior legado do cacau para essa Região foi a construção da Universidade. Nós não podemos deixar de reconhecer o quão importante foi a criação dessa Instituição, na década de 1970, quando seus idealizadores pensaram em criar uma universidade no Sul da Bahia. Ao longo desse período, a UESC cresceu, se consolidou em muitas ações, em outras ainda precisa passar pelo processo de consolidação, mas, com certeza, a UESC hoje é a Instituição de maior credibilidade existente na Região Cacaueira. Temos o reconhecimento não só nacional, mas somos reconhecidos por uma série de institutos internacionais, como uma Instituição altamente qualificada no desenvolvimento de uma série de ações e isso faz com que tenhamos mantido essa Região respirando depois da crise do cacau. A partir da década de 1990, com o acontecimento da vassoura de bruxa, se essa região não tivesse a UESC estaria numa situação muito mais difícil do que se encontra hoje. Não só pelo movimento financeiro que a Universidade faz circular anualmente, mas acima de tudo, pelas possibilidades de reconhecimento e de ações que são feitas através da Universidade para a Região. Então, entendo que a UESC passou da fase não só de fazer a integração regional, a construção dessa massa crítica regional e ter uma interação muito forte com a sociedade, mas tem, hoje, uma série de planos e programas estabelecidos para a Região que passam pela própria Universidade. Quando nós, em um momento de crise, fizemos o pedido ao Governo do Estado para transformar a FESPI numa universidade federal de ensino superior, não tivemos êxito, mas, de certa forma, o nosso pleito foi atendido porque nós passamos a ser uma instituição de ensino superior pública e gratuita com a criação da Universidade Estadual de Santa Cruz. E, mais recentemente, o papel da Universidade Estadual de Santa Cruz foi preponderante, eu poderia, inclusive, dizer, decisivo, para a criação da Universidade Federal do Sul da Bahia. A discussão foi promovida nos últimos quatro anos em Brasília, de maneira muito concreta, dentro do Ministério da Educação, e em maio de 2010, nós fizemos um documento mostrando ao MEC que a UESC era insuficiente para atender a comunidade da Região Cacaueira. Nós temos uma população de mais de 2 milhões de habitantes, temos uma quantidade de jovens muito pequena com acesso ao ensino superior. A Bahia já tem um percentual inferior ao percentual nacional. Temos 13% da população de 18 a 24 anos com acesso em nível nacional e na Bahia, 9%, e se formos olhar comparativamente para a Região Cacaueira, o índice de acesso ainda fica menor. Então, esse foi um dos motivos pelo qual nos empenhamos em fazer o pleito e provar ao Governo Federal a necessidade de se criar uma nova universidade federal. E esperamos que, até 2013, essa Universidade inicie o seu funcionamento, como esperamos também que o Instituto Federal – que nós temos dado, de certa forma, suporte de funcionamento, não só com orientação e participação de alguns professores, mas com liberação e utilização de algumas estruturas da Universidade para o seu funcionamento provisório – também inicie o seu funcionamento a partir de 2012. Eu acho que tudo isso é importante para mudar o perfil da nossa Região. E se nós pensarmos dentro do contexto da Região Cacaueira como um todo, vamos perceber que a estrutura existente de ensino superior nessa área geográfica ainda é incipiente e insuficiente para atender realmente às necessidades regionais. 

NW - Professor, certamente devem existir projetos que o senhor gostaria de ter executado, no seu mandato como Reitor, e não foi possível. O senhor poderia falar sobre algum desses projetos? 

AJBS - Nós estamos tentando, por exemplo, conseguir recursos de agência internacional para fazer o saneamento básico do Salobrinho, no lado que fica vizinho à cerca da Universidade. Porque há uma necessidade de que seja feito; a UESC, há 20 anos, quando se transformou em Universidade, perdeu, naquela época, a oportunidade de adotar o Salobrinho para ser um bairro não só universitário, mas que fosse um verdadeiro laboratório para todas as ações que são desenvolvidas pela Universidade. Sempre houve aquele contraditório porque as ações são do Município, não são ações, na realidade, de uma instituição de ensino, mas eu acredito que uma das coisas que, de certa forma, me frustra é ver que nós poderíamos participar de forma muito mais efetiva e muito mais atuante nessas ações. Internamente, lógico, a Universidade – como o conceito de universalidade já diz – representa uma instituição num grau de pluralidade muito grande: nós temos professores aqui de mais de 40 países, temos alunos de todos os estados brasileiros, nós temos alguns alunos de outros países, e isso faz com que a nossa responsabilidade cresça, e ela precisa ser voltada principalmente para o lado da assistência direta aos nossos membros acadêmicos. Para nossa população acadêmica, nós precisaríamos desenvolver (o que foi uma tentativa que em dois momentos não obteve êxito), a criação de um posto médico. Para isso, temos que conseguir autorização do Governo do Estado para a contratação de médicos fora do corpo docente, porque esse posto médico atenderia não apenas à comunidade acadêmica, que hoje está em torno de 11 mil pessoas, mas atenderia a todo o entorno da Universidade, como, por exemplo, Salobrinho, Rio do Braço, Vila Cachoeira, Banco da Vitória e, com isso, aumentaria consideravelmente o número de demandantes. Então são ações que ficaram pendentes, não por falta de tentativa ou por falta de empenho, mas pelas próprias dificuldades inerentes à obtenção de recursos externos que permitam a construção de alguns equipamentos necessários à Universidade, mas, acima de tudo, equipamentos que são necessários para o desenvolvimento regional. E nós temos hoje uma participação bastante efetiva junto ao Governo Federal, temos participado de quase todos os programas e editais do Governo, temos buscado apoio junto aos parlamentares da bancada baiana e isso faz com que nós também tenhamos que assumir uma série de compromissos. Hoje nós participamos como membro do grupo COIMBRA, temos a presidência do CEPEDI em Ilhéus, somos o presidente do Fórum de Reitores das Universidades Estaduais Baianas, somos membro da Biofábrica, da Fundação Pau Brasil, membro efetivo do Conselho de Ciência e Tecnologia do Estado da Bahia, somos vice-presidente do CRUB (Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras), presidente da Associação Brasileira de Reitores das Universidades Estaduais e Municipais, enfim, todas essas participações, que devem ser registradas como participações em organismos nos quais não há remuneração, na realidade existem porque nós queremos que a Universidade Estadual de Santa Cruz sempre esteja presente nas grandes discussões do ensino superior brasileiro. Comumente nos reunimos com ministros, temos relações com o Ministério dos Esportes, com o Ministério da Ciência e Tecnologia, o Ministério da Educação, Ministério da Saúde. E isso faz com que a UESC realmente seja não só conhecida, mas, acima de tudo, reconhecida como uma Instituição de qualidade, uma Instituição que tem atingido patamares que, talvez, nunca imaginássemos de atingir se nós não tivéssemos o espírito de buscar, de participar, de agregar e de compartilhar as ações que são desenvolvidas na nossa Universidade. 

NW - Professor, considerando essa experiência acumulada como vice-presidente do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, também como presidente atual da Associação Brasileira de Reitores das Universidades Estaduais e Municipais, que perspectivas o senhor vê para a educação superior do Brasil, de modo bem amplo? 

AJBS - O Brasil está buscando atingir metas realmente auspiciosas. No momento em que se imagina, até 2020, ter 50% dos jovens de 18 a 24 anos dentro das universidades públicas, ou seja, essa taxa bruta que hoje está em torno de 15% chegar a 50%, não é um programa que busque resultados pequenos. Eu acho que nós temos que ter grandeza nas nossas ações. Não podemos pensar pequeno, porque quem pensa pequeno normalmente não consegue levar sua instituição a lugar algum. Então eu acho que vai haver uma transformação com relação ao ensino superior. O Governo tem investido muito, principalmente nas universidades federais, e isso é uma coisa que faz com que nós, permanentemente, estejamos brigando com o Governo Federal, porque nós queremos um tratamento uniforme para as universidades estaduais. Hoje nós sentamos na primeira fila no momento que o MEC convida as universidades para discutir o Programa Nacional de Educação. Então, todas essas metas que o Governo Federal está colocando como prioridade, se realmente forem efetivadas até 2020, eu acredito que o Brasil vai dar um salto muito grande em termos qualitativos no ensino superior. Obviamente que a educação é fundamental para fazer qualquer outra transformação. Se você pensa em saúde, tem necessidade da educação, se pensa em segurança, tem necessidade da educação, ou seja, a educação é um segmento a ser trabalhado por qualquer governo, porque ela faz com que haja modificação em todos os demais setores. Então eu acredito que o governo, hoje, dentro dessa interação maior que está havendo com o mundo globalizado – hoje nós discutimos a educação com instituições americanas, francesas, alemães, italianas e chinesas - nós percebemos que temos modificado bastante, de forma muito rápida, o conceito de ensino superior no Brasil. E, com certeza, nos próximos 20 anos o Brasil vai estar com suas instituições de ensino superior colocadas entre as 50 melhores do mundo. Senão, pelo menos, entre as 100 melhores do mundo. 

NW - Chegando ao final da nossa entrevista e também considerando que chegamos ao final de mais um ano, deixamos o senhor à vontade, nesse momento, para que possa enviar sua mensagem à comunidade acadêmica. 

AJBS - Quem encerra mandato, na realidade só tem a agradecer. Ao longo desses oito anos, não só pude participar do crescimento, da consolidação e, acima de tudo, do reconhecimento da nossa Universidade, não só pela comunidade acadêmica, mas pela comunidade externa, independentemente de ser ela baiana ou da área de ensino em nível nacional. Isso faz com que tenhamos a sensação de que se não atingimos a totalidade das nossas ações, com certeza o resultado da própria avaliação da Universidade dá a nota do trabalho que nós fizemos. Eu digo sempre que talvez a minha maior capacidade como gestor seja a de aglutinar pessoas que buscam os mesmos objetivos. Consegui ter, ao longo desses oito anos, uma equipe dedicada, eficiente, uma equipe escolhida de forma meritória e por isso os resultados foram atingidos. Então, nesse momento, só me resta agradecer a essas pessoas que estiveram presentes na minha equipe de trabalho, agradecer à comunidade acadêmica como um todo, aos professores, principalmente, que enxergaram de maneira muito clara os caminhos que nós estabelecemos para o desenvolvimento da Universidade; aos servidores técnicos administrativos, que são os eternos componentes de sustentação do funcionamento da Instituição, e aos nossos alunos que, dentro das diversas discussões do contraditório – eles, como todo segmento estudantil – buscam sempre ser oposição, mas as respostas, no momento em que eles foram avaliados em termos de conhecimento, demonstram que eles também têm buscado o melhor e dado o melhor para a nossa Instituição. Então é um agradecimento que deve ser feito a todos. E dizer que, em 2012, a Universidade, com certeza, vai continuar trilhando o seu caminho de crescimento, de desenvolvimento, porque uma Instituição que trabalha dentro de metas que são preestabelecidas, buscando atingir essas metas que são discutidas pela comunidade acadêmica, a possibilidade de errar é muito pequena. Eu tenho certeza que a nova administração que a Universidade terá, a partir de 02 de fevereiro, não só terá a qualidade necessária como, acima de tudo, o compromisso e a vontade de trabalhar para que a UESC continue dentro desse cenário atual, cada vez mais no estágio crescente e no estágio de reconhecimento. Buscamos, obviamente sabendo de todas as dificuldades, atingir a classificação que a UFBA tem hoje em nível nacional, por ser uma Instituição que tem quase três vezes mais idade do que a UESC e tem uma Faculdade de Medicina com mais de 200 anos. É difícil, mas não é uma missão impossível. E hoje muitos dos nossos cursos já têm um reconhecimento e uma qualidade superior a qualquer outra instituição de ensino superior na Bahia. Com certeza, a UESC vai continuar pensando grande, vai continuar crescendo muito, vai continuar sendo bem administrada, e as possibilidades de que a nova gestão venha a apresentar resultados até melhores e maiores do que nós obtivemos se vislumbra como muito real, como muito possível, até porque a UESC está muito bem encaminhada nesse momento. É uma Instituição que iniciará 2012 com recursos externos disponíveis bastante vultosos, e com recursos da fonte 40 – recursos próprios – que permitirão não só trabalhar na ampliação de espaço físico, mas inclusive de equipamentos ou de ações de manutenção que são necessárias ao dia-a-dia da Instituição. Com certeza, a gestão de Adélia e de Evandro vai ter um sucesso maior do que a minha. Eu aposto nisso, porque a situação atual está muito mais propícia, principalmente pelo relacionamento que a Universidade criou hoje com diversos ministérios, com diversas entidades externas. Nossa relação com a Capes, CNPQ, nossa relação com a FINEP, com a FAPESB, hoje, é infinitamente maior do que era há oito anos. E essas instituições são de financiamento externo. Eu seria capaz de apostar que tanto Adélia quanto Evandro vão ter um sucesso maior do que nós tivemos nesse nosso período de mandato. 

NW – Professor, muito obrigado pela entrevista.

AJBS - Sou eu que agradeço.


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