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Entrevistas

O ensino superior não pode ser de elite

 

Professor Elias Lins Guimarães, em 25/09/2012.

Elias Lins Guimarães possui graduação em Ciências Sociais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (1979), especialização em Sociologia pela PUC-MG, mestrado e doutorado em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ingressou na UESC como professor da FESPI (Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna), em 1984, da qual foi diretor-administrativo. Primeiro coordenador do colegiado do curso de Ciências Sociais, atualmente é Pró-reitor de Graduação da Universidade Estadual de Santa Cruz.

 












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Núcleo Web - Professor Elias, considerando a implantação, em breve, de uma nova instituição pública de ensino superior na região, a recém-criada Universidade Federal do Sul da Bahia, qual a perspectiva da UESC em propor o funcionamento de novos cursos de graduação?

Professor Elias Guimarães - Bom, há uma política de implantação do acesso ao ensino superior promovida pela atual gestão governamental, tanto no âmbito federal como estadual. Dados de 2010, que o INEP traz, mostram a população universitária brasileira já alcança 6,4 milhões de estudantes. Eu creio que não há como desconhecer que o acesso ao conhecimento do ensino superior, ou seja, o conhecimento cientificamente referenciado, praticamente ficou retido nas mãos de uma parcela da elite. O ensino superior não pode ser de elite. Hoje, ele alcança 17% dos jovens de 18 a 24 anos e o ideal é que ele alcançasse 30% dessa população. É notório que as variantes das metas para a política de acesso, vislumbradas pela Reforma Universitária, no âmbito das federais e pelo realinhamento da política estadual de educação para o Ensino Superior, teve suas ambições firmadas não apenas na ampliação do número de vagas, mas, sobretudo, visando inseri-las dentro de um projeto de distribuição de recursos. Desta forma, almejando-se alcançar também os diferentes níveis sociais e as regiões de menor desenvolvimento socioeconômico e possibilitando uma maior cobertura geoeducacional é que nós vemos a implantação da UFSBA. Quanto à implantação da nova universidade federal no sul e extremo sul da Bahia, não podemos esquecer que existem investimentos estratégicos do Governo Federal e Estadual previstos para os próximos anos. Isto requer a ampliação no que se refere à formação de recursos humanos qualificados para implantação e  consolidação desses empreendimentos e iniciativas. É notório que exista uma demanda muito grande para ser atendida pela nova universidade nos territórios de identidade do Litoral Sul e Extremo Sul da Bahia - o que a UESC já vem atendendo. Entretanto, a demanda é maior do que realmente a gente tem a possibilidade de atender. Eu quero ressaltar que o Censo Educacional de 2003 declara que os dados do World Education Indicators colocam o sistema de educação superior brasileiro entre os mais privatizados do mundo, atrás mesmo de alguns países. Vale ressaltar que o processo de privatização do setor universitário não ocorreu pelo leiloamento das instituições públicas de ensino, mas numa mudança cultural, centrada na legitimação da doutrina liberal, que visa implementar a lógica do mercado nos mais diversos círculos sociais. Nesse sentido, o processo de privatização da educação superior foi se desenvolvendo prioritariamente por duas vias: pela flexibilização na legislação que impulsionou a liberação de serviço no interior das instituições públicas e pelo forte incentivo governamental para ampliação do setor privado, inclusive, fazendo uso de verbas públicas. O que a gente percebe é que, na década de 90, a criação de novas instituições federais de ensino superior praticamente estagnou, ao mesmo passo em que o setor privado teve seu grande salto quantitativo tanto no número de instituições como no de matriculados nos cursos de graduação. Bom, é nessa perspectiva que eu vejo a UESC em propor o funcionamento de novos cursos, previstos no Plano de Desenvolvimento Institucional- PDI. Eu acho que vai em direção das necessidades para que a universidade cumpra sua missão social, conciliando a expansão com responsabilidade social, além de fazer uso de políticas já iniciadas, com vista a fortalecer sua inserção institucional em ações integradas de cidadania e formação profissional com base nas atividades de ensino, pesquisa e extensão, preocupando-se com a sedimentação de capacidades e competências através da articulação entre o ensino teórico e prático, ou seja, através do entretecimento entre o saber reflexivo e crítico e o saber aplicado.

NW - Professor, em virtude da extinção do processo seletivo através do vestibular, a partir de agora, o meio de acesso à UESC será pelo SiSU (Sistema de Seleção Unificada), gerenciado pelo Ministério da Educação. Na sua opinião, qual o impacto social decorrente dessa mudança?

EG - Eu acho que a gente tem de resgatar um pouquinho da nossa história para entender o porquê da importância da utilização de outros recursos e outros mecanismos de ingresso na Universidade. Nos primeiros anos do século XX, a República Federativa do Brasil conheceu, de fato, as suas primeiras universidades, as quais passaram a adotar como critério de seleção dos futuros alunos o grau de conhecimento destes em áreas de conhecimento humano, consideradas fundamentais, quais sejam: língua portuguesa, a matemática, a física, a química, a biologia, e posteriormente, as línguas estrangeiras. Havia se criado, nesse sentido, um procedimento de seleção de alunos baseado na aplicação de testes ou provas objetivas de rendimento, o popular Vestibular, fundamentado em modelos matemáticos, agrupados sob o rótulo técnico da Teoria Clássica dos Testes, o TCT. Seu intuito era selecionar os futuros universitários com base na mensuração de conhecimentos acumulados por estes durante os anos de escolarização formal. Mas sabemos que o acesso é ainda desigual no ensino superior, mesmo hoje com o sistema de cotas e com as políticas públicas voltadas para a qualificação da educação básica pública. Com base nos dados do último censo, o Censo de 2010, quando fazemos o corte racial, para não falar no socioeconômico, 31% dos brancos, de 18 a 24 anos, que estavam estudando no referido ano, cursavam uma faculdade. Já entre os negros da mesma faixa etária, somente 12% estavam no ensino superior e os pardos, 13%. O que chama a atenção é que os dados indicam também a alta incidência de defasagem escolar, já que entre todos os grupos raciais, cerca de 50% dos estudantes entre 15 a 24 anos ainda estavam no ensino fundamental. Por outro lado, não podemos esquecer que a sociedade atual é também marcada pelas profundas transformações decorrentes do rápido e constante avanço científico e tecnológico, caracterizando-se por conviver com crenças e valores plurais, pelo afã democrático e pela presença das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC), em quase todas as partes e atividades.  Ademais, essa sociedade passou a requerer profissionais que soubessem trabalhar em grupo, de modo a cooperar com os demais colegas; que promovessem a inovação tecnológica através de um conjunto de competências de ordem superior, caracterizadoras da criatividade humana; que contribuíssem com o avanço científico, através do exercício da racionalidade científica, mas também da reflexão filosófica; que promovessem a resolução dos graves problemas sociais, econômicos e educacionais a afetar o nosso país, mas também todo o planeta; e que buscassem alcançar a tolerância e o bom convívio entre as sociedades, respeitando as diferenças entre os indivíduos e os grupos sociais. Portanto, um novo indivíduo surgiu para ocupar espaços criados e demandados por essa nova sociedade. Diante das constatações relatadas, cabe à Universidade cumprir o papel de formar este novo indivíduo para este novo mundo, baseando em ações de formação no desenvolvimento de novas competências para a vida social e para o mundo do trabalho, os dois senhores aos quais à Universidade cabe servir. Bom, o ENEM, nesse sentido, possui como objetivo avaliar o desempenho do estudante ao fim da escolaridade básica, visando a aferir o desenvolvimento das competências e habilidades necessárias ao exercício pleno da cidadania. Neste sentido, não é somente uma ferramenta de diagnóstico do Ensino Médio, mas um recurso de ingresso no ensino superior que possibilita alteração do sistema básico na medida em que requer determinadas competências ao estudante. Quando a UESC fez a opção pelo ENEM/SiSU, de forma consequente e responsável, estava consciente de que essa nova modalidade de seleção poderia expandir a universidade, possibilitando que todos tivessem acesso a ela e para que ela pudesse, cada vez mais, se tornar um direito de cidadania. Nessa nova sociedade temos que qualificar o ingresso. Temos que trabalhar com o acesso justo já que as vagas das várias Instituições de Ensino Superior (IES) possibilitam a uma maior mobilidade regional dos candidatos aprovados, aspecto, no meu entendimento, extremamente salutar ao desenvolvimento da graduação brasileira. Creio que a utilização do novo ENEM/SiSU, como forma de seleção unificada nos processos seletivos das IES, tem como principais objetivos democratizar as oportunidades de acesso às vagas no ensino superior, possibilitando a mobilidade acadêmica, bem como, induzir a reestruturação dos currículos do ensino médio. Logicamente, que a mobilidade acadêmica idealizada para os universitários da graduação deverá estar pautada em ações de assistência estudantil de maior monta e de envergadura nacional, a exemplo de bolsa permanência, auxílio alimentação, auxílio moradia e outras tantas. Apontam os estudos que o sistema de educação superior poderá ser “oxigenado” com esse novo contingente de universitários, selecionados a partir das habilidades e competências para a resolução de problemas, que poderá vir a estar em interação com as peculiaridades regionais, através da mobilidade acadêmica. O Brasil, certamente, estará preparando-se melhor para afrontar um grave problema: a baixa proporção de jovens entre 18 e 24 anos inseridos no sistema universitário, que atualmente ronda 17%, como já fora dito. Vale a pena realçar: essa proporção é inferior ao valor observado em alguns países latino-americanos, a exemplo de Chile, Argentina e Uruguai, e muito inferior à proporção de universitários existente na Europa, na América do Norte.

NW - Ok professor, então, que dimensão deve ter a política de assistência estudantil com a nova configuração social na Universidade após a adoção da política de reserva de vagas (cotas)?

EG -
Bom, um assunto que não pode estar de fora de qualquer prioridade na gestão universitária é a assistência estudantil, pois a questão permeia toda a estrutura das universidades públicas. Na UESC, significativa parcela dos estudantes é oriunda de grupos que não podem ser considerados privilegiados socialmente. Então o assunto da assistência estudantil não deve ser menor na instituição, o que pode ser percebido quando analisamos como o tema ganhou dimensão e atenção nas últimas gestões universitárias. Também é expressivo na UESC o aumento no investimento, do número de bolsas, e a integração dos estudantes em atividades de ensino, pesquisa extensão na instituição, pois a vulnerabilidade acadêmica provoca o rendimento universitário insatisfatório e até a evasão escolar de muitos estudantes. Atualmente, a assistência estudantil, na UESC, está pautada na bolsa de permanência para estudante de graduação presencial, isto é, 980 bolsas/mês no valor de 250,00, 70 bolsas/mês para graduação EAD no valor de 70,00, 80 bolsas auxílio moradia no valor de 200,00 e subsídio alimentação no Restaurante Universitário com 450 pratos/dia, bem como ao apoio aos estudantes de graduação para apresentação de trabalhos em eventos, e aqueles também, um tipo de auxílio especial para aqueles que têm algum tipo de deficiência.

NW - E um dos assuntos que a gente pode dizer respeito é a acessibilidade de estudantes portadores de necessidades especiais. Que providências, então, têm sido adotadas na assistência a esses alunos?

EG - O serviço de educação especial ou atendimento educacional especializado está voltado para identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos – prefiro chamá-los de estudantes – considerando suas necessidades específicas. Bom, isso tem observância a determinadas leis, decretos – que não vale a pena aqui ressaltar porque já é de conhecimento de todos. Eu só quero enfatizar mais a questão da acessibilidade e do atendimento educacional no caso específico da UESC. No caso específico da UESC, como já fora dito, ele deverá garantir serviço especializado, acompanhamento pedagógico, intérprete de libras, transcrição e impressão braile, orientação e mobilidade, adaptação de material didático tátil, tecnologia assistível, para que possam ser eliminadas barreiras capazes de obstruir o processo de acesso ao curso e conclusão do ensino superior para acadêmicos com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades. Eu quero ressaltar também que esse serviço de atendimento educacional inicia em 2006, 2007 e perdura até hoje. Hoje nós temos o Atendimento Educacional Especialisado que assiste aos estudantes com diversos tipos de deficiências, que são graduandos do curso de Geografia, Física, História, Letras, Ciência da Computação. E as especificidades de cada aluno requerem ajudas técnicas para definir as tecnologias de baixo e alto custo voltadas para pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. É bom frisar que essa deficiência também, a acessibilidade não só diz respeito à deficiência em si, mas aos processos estratégicos que possibilite a mobilidade. Bom, incluem aí produtos, instrumentos e especialmente projetados para melhorar a funcionalidade desse público, favorecendo a autonomia pessoal total assistida. Além dos equipamentos, nós temos também profissionais habilitados, é bom que se ressalte, que são transcritores, ledores e intérprete de libras. Os nossos equipamentos, eu creio que atendem, e nós temos impressoras de braile, máquina de braile, programa de voz, reglete e punção – que seria a prova da escrita braile. E a UESC está preocupada, enquanto política de acessibilidade, com projetos de acessibilidade arquitetônicas, que é o caso da pista tátil, de corredores, que já está no âmbito do seu desenvolvimento. Bom, e também uma coisa que eu acho fundamental, que é uma preocupação e que está sendo, inclusive, o motivo de apreensão por outras instituições é o fato de firmar convênio com a APAE, isso disponibiliza profissionais e a gente tem também esse intercurso entre os nossos alunos portadores de deficiência e um órgão que já é habilitado, credenciado e tem uma competência instalada para tanto. O programa de assistência estudantil, a gente tem que ressaltar também, que existem bolsas específicas de assistência a essas pessoas portadoras de necessidades.

NW - Professor, um dos assuntos em debates na graduação é a necessidade de fortalecimento dos cursos de licenciatura. Como o senhor analisa essa questão?

EG - No Brasil, como se sabe, as licenciaturas foram criadas nas antigas faculdades de filosofia, nos anos 30, principalmente como consequência da preocupação com a regulamentação do preparo de docentes para a escola secundária. Vale ressaltar, que os currículos de formação de professores eram baseados no modelo de racionalidade técnica - isso quer dizer, separação entre teoria e prática na preparação profissional, prioridade dada à formação teórica em detrimento da formação prática e a concepção da prática como mero espaço de aplicação de conhecimentos – que na verdade, já não dava mais conta em relação às novas exigências quanto aos processos de formação na atualidade. Paulatinamente, começaram a se mostrar como inadequados à realidade da prática profissional docente. Em pleno século XXI, não podemos, enquanto instituição pública – e aqui eu falo do ponto de vista da Pró-reitoria de Graduação – legitimar uma prática que coloca de forma desigual e injusta um profissional para atua na educação básica sem as devidas competências e habilidades para tal. Não podemos simplesmente formar profissionais para o ensino básico, mas criar dinâmicas formativas e ferramentas de intervenção no ensino básico. Para tanto, creio eu, temos que pensar e qualificar cada vez mais a formação do professor. Isto requer deslocamentos e processos de avaliação da escola e das práticas pedagógicas, das matrizes curriculares, pois a sociedade contemporânea - como já afirmamos - requer uma outra formação docente para atender a um novo sujeito que está constituído. É evidente, também, o crescimento da investigação sobre a profissão docente nas universidades e instituições de pesquisa no Brasil, principalmente a partir da década de 90, o que tem possibilitado um debate fundamentado em análises empíricas e teóricas e, por conseguinte, uma discussão mais qualificada sobre a questão. Como se sabe, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996, foi, sem dúvida alguma, responsável por uma nova onda de debates sobre a formação docente no Brasil. De acordo com essa referida lei, a educação básica – agora compreendida como Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio – deve perder seu caráter primordialmente propedêutico e refletir uma visão mais rica de aprendizagem e desenvolvimento do educando, segundo a qual cada idade tem importância em si, como fases de constituição de sujeitos, de vivências e socialização, de processos de construção de valores e identidades. Creio eu que um modelo alternativo de formação de professores que vem conquistando um espaço cada vez maior na literatura especializada é o denominado por alguns autores como modelo de racionalidade prática. Nesse modelo, o professor é considerado um profissional autônomo, que reflete, toma decisões e cria durante sua ação pedagógica, a qual é entendida como um fenômeno complexo, singular, instável e carregado de incertezas e conflitos de valores. De acordo com essa concepção, a prática não é apenas o locus da aplicação de um conhecimento científico e pedagógico, mas espaço de criação e reflexão, em que novos conhecimentos são constantemente gerados e modificados. Creio que são vários os fatores externos ao processo pedagógico que vêm prejudicando a formação inicial e continuada dos professores no país, destacando-se o aviltamento salarial e a precariedade do trabalho escolar. Sabe-se que o desestímulo de jovens à escolha do magistério como profissão futura e a desmotivação dos professores em exercício para buscar aprimoramento profissional são consequências, sobretudo, das más condições de trabalho, dos salários pouco atraentes, da jornada de trabalho excessiva e da inexistência de planos de carreira ou do próprio reconhecimento social da profissão. É preciso, então, imaginar a formação de um profissional que tenha vivência na escola básica, desde a infância, com a adolescência e jovens e adultos, e conheça seu cotidiano, suas construções, sua realidade. É interessante conceber um profissional que, ao assumir seu trabalho com alunos adolescentes, por exemplo, possa compreender questões da infância e da fase adulta. Para isso, temos que fortalecer os cursos de licenciatura, pensando na organicidade da educação básica com a universidade, pois o grande desafio, no meu entendimento, é o ensino médio e a compreensão da escola como centrada na aprendizagem.

NW - Nesse sentido professor, qual a articulação necessária para melhor eficácia da política de estágio supervisionado?

EG - A política de Estágio Supervisionado da UESC está centrada na compreensão do mesmo como um componente curricular, como uma estratégia para que os estudantes coloquem em prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula, de maneira que possam vivenciar no dia a dia a teoria, absorvendo melhor os conhecimentos, e desta forma, podendo refletir e confirmar sobre a sua escolha. Entendemos que o estágio é parte de um processo de formação do aluno, estabelecendo a interlocução entre a formação acadêmica e o mundo profissional, através de uma reaproximação contínua da academia com a realidade social. Como ato educativo escolar desenvolvido no ambiente de trabalho, é um dos momentos da formação que possibilita a interação mais próxima com a realidade onde o profissional irá atuar, possibilitando-lhe reflexões sobre a mesma. O estágio curricular, seja ele obrigatório ou não, tem a função de propiciar ao estagiário o aprendizado social, profissional e cultural, tendo como resultado uma reflexão real e futurista dos novos cenários sócio-econômicos. Pensando na política de estágio supervisionado da UESC, eu acho que cabem algumas considerações na perspectiva de um novo aprofundamento e sedimentação do que é realmente o estágio supervisionado. Desde abril de 2002, que nós temos procurado articular por meio de convênios com a secretaria municipal de Ilhéus e Itabuna, e também outros municípios de abrangência da UESC, o IFBA, num caso específico, parcerias para campos de estágio para os discentes dos cursos de licenciaturas. Também temos lutado para uma maior interlocução com docentes e discentes sobre os procedimentos necessários para assegurar a formalização do estágio curricular, seja ele obrigatório ou não-obrigatório. Elaboramos também, o manual de estágio, diminuindo, dessa forma, as dúvidas relacionadas ao estágio. Também temos procurado nos reunir com os coordenadores de colegiado e disso resultou a formação de comissão, de duas comissões, na verdade, uma de licenciatura outra em relação ao bacharelado, para discutir aspectos didáticos, pedagógicos e legais do estágio como componente curricular na UESC. E por último, temos estreitado o contato com outras instituições Superiores, de Educação Superior, para intercâmbio do conhecimento e procedimento do estágio, como é o caso da PUC do Rio Grande do Sul, que tem como objetivo tornar a tramitação do Termo de Estágio, como documento legal mais dinâmico e menos burocrático, possibilitando que o estagiário inicie suas atividades com a documentação em ordem. Então, nós estamos procurando otimizar e racionalizar procedimentos dentro do processo dinâmico que é o estágio na UESC.

NW - Fala-se agora na possibilidade de mobilidade acadêmica entre as instituições públicas de ensino superior da Bahia. Como será e quais as vantagens desse tipo de intercâmbio?

EG - Como nós já apresentamos, no mundo globalizado as realidades se aproximam e requererem diálogos e otimização de recursos e oportunidades e, principalmente, troca de saberes e conhecimentos. Há no âmbito das quatro universidades estaduais da Bahia uma discussão sobre o Programa de Mobilidade Estudantil, o qual enseja a possibilidade dos discentes cursarem componentes curriculares nos programas de ensino de graduação e pós-graduação dentro dos cursos equivalentes. Vejam que a gente está falando de mobilidade estudantil. Eu estou tentando discutir a mobilidade acadêmica, mas no momento, a primeira oportunidade que a gente está tendo é para viabilizar essa mobilidade estudantil. Certamente, entre as estaduais a mobilidade acadêmica não é uma opção, mas cria uma necessidade, desde já que a ciência, no meu entendimento, é um ato social e não individual. Nesse sentido, é essencial a comunicação dos pesquisadores e estudantes. Eu acho que outra importância da mobilidade é a desconcentração da produção científica, quando a gente pensa já na mobilidade acadêmica, desde já que a maior parte dessas produções científicas está afeita ou alocada, centrada na região Sudeste, principalmente, em São Paulo. Então eu acho que a mobilidade vai agilizar, possibilitar, otimizar esse intercâmbio, esse diálogo que o mundo está requerendo.

NW - E no plano internacional, quais as perspectivas de intercâmbio na área de graduação?

EG - A mobilidade internacional de estudantes no aprofundamento de formar quadros profissionais que atendam cada vez mais as demandas do mercado e as necessidades do país é um fato que no século 21 requer, realmente, uma tensão essencial e básica.  Creio que além de facilitar o conhecimento de outras línguas e culturas, facilita ainda mais o conhecimento de outras tecnologias e métodos de trabalho que favoreçam uma maior empregabilidade futura, não só em mercados nacionais, mas também estrangeiros. Um aspecto da mobilidade acadêmica de estudantes, especialmente valorizado, é a transferência internacional de conhecimento e de tecnologia, o que se pode revelar bastante benéfico para o país de origem quando do regresso do estudante. Creio que essas práticas de intercâmbio durante o percurso acadêmico, que estão sendo viabilizadas e incentivadas pela UESC, em termos de acolhimento de alunos de países que a instituição mantém convênios e acordos, seja estimulando também os nossos estudantes a participarem de editais, a exemplo de Ciência sem Fronteira e Programa de Licenciaturas Internacionais, são de fundamental importância quando a gente pensa na qualidade do ensino e na formação dos nossos docentes. Creio que outro aspecto da mobilidade internacional de estudantes de especial relevância para os países de acolhimento, no caso específico do Brasil e mais ainda da UESC, relaciona-se com o fato da recepção de estudantes estrangeiros constituir, em muitos casos, um meio para promover o acréscimo da procura interna. O que pode constituir também um fator relevante para a dinamização da economia local, ao favorecer um ingresso de capital devido à procura por alojamento, comércio, serviços culturais e de lazer, entre outros. Caso específico, hoje, quando a gente pensa nas economias internacionais é Portugal, que tem viabilizado com muita maestria em função da crise da Europa e tem utilizado desses recursos, dessas estratégias para estudantes, em termos da mobilidade internacional.

NW - Agora falando de outro assunto: existe algum tipo de reformulação no projeto pedagógico dos cursos da UESC?

EG - Creio que é uma necessidade urgente. Já ressaltamos que o mundo se globaliza, utiliza-se de novas tecnologias e essas tecnologias requerem também formação específica com mais qualidade e com mais sentido de atenção ao mercado. Então, a reformulação dos projetos curriculares é de fundamental importância para atender a esse novo sujeito que o mercado requer e às próprias demandas que são postas à Universidade. Eu acho que ela tem dentro da sua missão institucional e da sua missão social formar, atrelar conhecimento que possibilite desempenhos de qualidade aos seus estudantes. Então, muitos currículos precisam ser revistos, redimensionados, para atender a esse mercado de trabalho e à própria formação do estudante. Então, eu acho que é uma demanda, uma necessidade premente e nós já estamos preocupados com isso: em repensar, em rever, em redimensionar os conteúdos pedagógicos estratégicos que estão postos e dados nos planos curriculares de cada curso.

NW - E na sua opinião, professor, qual a contribuição dos cursos de graduação no processo de desenvolvimento regional?

EG - Bom, a Universidade dentro da sua missão, como já ressaltei, tem o dever e responsabilidade social em possibilitar o desenvolvimento regional. E como é que isso acontece? Criando, gestando tecnologias, produzindo conhecimento, formando mão de obra qualificada para atendimento das demandas do mercado. Isso tem levado uma coisa à outra, como já disse anteriormente. A gente tem que implantar, realmente, programas de acompanhamento didático-pedagógico para que a gente possa ter certeza, mais clareza a respeito dessa formação e dessa inserção desse profissional no mercado de trabalho. Eu acho que é dever da Universidade e é da sua própria missão, essa questão da implicação entre o conhecimento produzido, saberes e conhecimentos produzidos na universidade e sua aplicação prática no desenvolvimento regional. Então, a função da universidade é essa: produzir conhecimento que esteja eivado de saberes que propiciem o exercício da cidadania, mas também o atendimento ao mercado de trabalho, ao mundo do trabalho e ao próprio desenvolvimento regional. Então, esse conhecimento tem que está implicado socialmente, em termos de desenvolvimento. Eu creio que a UESC tem, já há muito tempo, realizado essa missão.

NW - Professor, muito obrigado pela sua entrevista.
 

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